quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Que manhã embrulhada. Não fica um pozinho de luz por aqui. Tudo macilento e cinzento como se nada mais existisse que cotão de lixo.
A cortina desmaia até ao chão. Sonolenta. Enche o peito de ar com o pouco que passa pela ligeira abertura na janela.
Ainda assim, expressa o único movimento, bocejado, ondulado que quebra a preguiça do quarto.
Sem a luz, não brincam às escondidas as sombras projectadas pelo soalho, trepando a parede ao longo do dia, fazendo de baloiço nos parcos objectos esquecidos e espalhados.
O recreio predilecto do sol desde a aurora ao ocaso.
Mas ficou de castigo, no armário das nuvens. E nem esperneando a luz chegará ao quarto. E se fizer birra, as nuvens adensam, escurecem e trovejam.
Resigna-se e pensa na tarde insane passada entre as voltas de um rolo de arame que encontrou por ali.
Quando lhe tocava, o arame dourava brilhando. Parecia um tufo de linhas precioso. Cheio de reflexos, a lembrar poças de oleo. Bonito.
E correram juntos por todas as suas curvas e voltas e torneados e as sombras, à sua frente, a marcar o passo transformavam em espiral projectada o arame dimensional e estático.
Sombras tontas, que esticavam por todo o lado a espiral. O arame inerte, viajou assim por todo o lado, por todos os meridianos e paralelos do quarto. Paredes, chão e cortinas. O Zénite no tecto.
Cresceu toda a tarde imensurável, imperou por todo o vazio, cruzando cadenciado pela corrida do sol, o riso luminoso da espiral sombra no esconde esconde da luz.
Tufo dourado de desperdicio agigantou-se em orbita eliptica no infinito do quarto.
Que manhã embrulhada.
Que buraco escuro o castigo no armário.

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